A cena é digna de thriller político: condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por liderar a invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deixou o Brasil e agora desafia abertamente as autoridades brasileiras. Ao anunciar que vai se instalar na Itália, Zambelli afirmou: “Podem colocar a Interpol atrás de mim, mas não me tiram da Itália. Sou cidadã italiana e lá sou intocável, a não ser que a Justiça italiana me prenda”
parlamentar, que também perdeu o mandato na Câmara, saiu do país pela fronteira com a Argentina no fim de maio e seguiu para os Estados Unidos, de onde planeja se mudar para Roma. Ela diz que a decisão não é abandono, mas sim uma forma de “resistência” diante do que chama de “pressão judicial” e “perseguição política”. “Quero deixar claro que não se trata de um abandono do país. Não estou desistindo da minha luta. Pelo contrário. É uma forma de resistência. É continuar a manifestar o que quero expressar”, declarou em entrevista à rádio Auriverde.
A reação das autoridades foi imediata. A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao STF a prisão preventiva de Zambelli e sua inclusão na lista vermelha da Interpol, além do cancelamento de seus passaportes. O pedido está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, que pode determinar novas medidas a qualquer momento.
A defesa da deputada, que já havia recorrido da sentença, afirma que não havia impedimento legal para a viagem, já que não existia mandado de prisão em aberto no momento da saída. No entanto, o advogado Daniel Bialski deixou o caso após ser surpreendido pela notícia da fuga da cliente.
Zambelli foi condenada por ser a autora intelectual do ataque hacker que resultou na emissão de um falso mandado de prisão contra o próprio ministro Alexandre de Moraes, em 2023. O hacker Walter Delgatti Neto, que executou a invasão, também foi condenado e confirmou ter agido a mando da parlamentar.
Além do processo do CNJ, Zambelli responde a outra ação penal no STF por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal, após perseguir um homem armada na véspera do segundo turno das eleições de 2022.
Enquanto a deputada se diz vítima de perseguição e promete denunciar o que chama de “ditadura” do Judiciário brasileiro à comunidade internacional, o caso ganha contornos de escândalo internacional, mobilizando debates acalorados nas redes sociais e dividindo opiniões no Congresso e na sociedade. Resta saber se a fuga de Zambelli será o capítulo final de sua trajetória política ou apenas o início de uma nova batalha judicial além das fronteiras brasileiras.