STF Ouve Mauro Cid: Minuta do Golpe, Pressão Militar e Bolsonaro no Centro das Investigações
Depoimento explosivo do ex-ajudante de ordens revela que ex-presidente leu, editou e discutiu plano para impedir posse de Lula — e omissão diante dos acampamentos golpistas reacende debate sobre responsabilidade e limites do poder
Por Administrador
Publicado em 09/06/2025 23:43
POLITICA

O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou nesta segunda-feira, 9 de junho de 2025, uma das etapas mais aguardadas do julgamento que apura a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O primeiro a depor foi Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que, em depoimento detalhado, confirmou que o ex-presidente não apenas recebeu, mas leu e editou a chamada “minuta do golpe” — um documento que previa medidas autoritárias para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

Segundo Cid, Bolsonaro teria removido do texto original a prisão de diversas autoridades, mantendo apenas a de Alexandre de Moraes, ministro do STF. “Ele enxugou o documento. Basicamente, retirando as autoridades das prisões, somente o senhor [Moraes] ficaria como preso”, relatou Cid ao ministro Alexandre de Moraes durante o interrogatório. O documento, segundo o depoente, foi discutido em reuniões com a presença de comandantes das Forças Armadas e previa até mesmo a decretação de estado de defesa e a realização de novas eleições sob controle militar.

 

O ex-ajudante de ordens também afirmou que Bolsonaro foi pressionado por aliados e por figuras militares — especialmente o general Braga Netto — a assinar um decreto que daria início ao golpe, e que recursos financeiros foram mobilizados para bancar operações e manter acampamentos em frente a quartéis pelo país. Cid revelou que Bolsonaro, mesmo após a derrota eleitoral, não agiu para desmobilizar os manifestantes que pediam intervenção militar: “Não fui eu que chamei, não sou eu que vou mandar embora”, teria dito o ex-presidente, segundo o depoente. Investigadores avaliam que essa omissão funcionou como anuência aos atos que culminaram na invasão dos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

 

Outro ponto de destaque foi a tentativa de encontrar indícios de fraude nas urnas eletrônicas. Cid relatou que, mesmo sem provas, Bolsonaro e Braga Netto apostavam na narrativa de fraude para convencer as Forças Armadas a aderirem ao plano golpista25. O depoente ainda detalhou reuniões organizadas por Carla Zambelli entre Bolsonaro e o hacker Walter Delgatti, na busca por argumentos técnicos para sustentar a tese de fraude eleitoral.

 

Apesar de confirmar ter presenciado “grande parte dos fatos”, Cid negou participação direta na tentativa de golpe e reforçou que assinou o acordo de delação de forma voluntária, sem coação. Ele também esclareceu que áudios vazados à imprensa, nos quais desabafa sobre pressão, foram feitos em momento de crise pessoal e não representam denúncia formal de coação.

 

O depoimento de Mauro Cid, transmitido ao vivo pela TV Justiça, marca o início de uma semana decisiva no STF, que ainda ouvirá outros réus de alto escalão, incluindo o próprio Jair Bolsonaro, ministros militares e ex-integrantes do governo. A defesa do ex-presidente tenta desqualificar a delação, alegando que Bolsonaro não tomou medidas concretas para efetivar um golpe militar, enquanto a Procuradoria-Geral da República sustenta que a trama foi real e contou com a anuência do então chefe do Executivo.

 

 

Do ponto de vista conservador, o caso levanta questões fundamentais sobre os limites do poder presidencial, o papel das Forças Armadas e a importância do respeito às instituições democráticas. A revelação de que Bolsonaro revisou e discutiu um documento de teor autoritário, mesmo sem ter executado o plano, reacende o debate sobre responsabilidade política e moral em momentos de crise. O Brasil, mais uma vez, se vê diante do desafio de apurar os fatos com rigor, garantir o devido processo legal e preservar a estabilidade institucional, sem ceder a paixões ou pressões externas.

 

O julgamento segue nos próximos dias, com o país atento a cada detalhe e à expectativa de que a verdade prevaleça — seja ela qual for.

 

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